quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

24 HORAS DE INTERLAGOS DE 1970

( A PRIMEIRA E A MESMO TEMPO A ULTIMA )

texto - Hiperfanauto
fotos dos acervos de: - Fabiano e Hiperfanauto.

Corria o ano de 1970, o ano do milagre brasileiro e do jargão “Brasil ame ou deixe-o”.
A nossa seleção canarinho ainda não era Tri, mas já estava despertando paixões, no Beira Rio o time titular havia tomado um sufoco da seleção gaúcha liderada por Ancheta, mas mesmo assim o sentimento geral do povão era de que no México a nossa canarinho ia arrasar e tirar do gogó aquele 1966 em que fomos massacrados pelo Eusébio de Portugal.
De fato ela chegou lá, arrasou e trouxe o caneco do Tri depois de uma magistral campanha, até hoje inesquecível nos campos de Guadalajara e Cidade do México.
Assim neste ambiente de euforia e patriotismo, com o índice de desenvolvimento nacional atingindo o patamar de 10% e etc e etc, para felicidade dos “fanautos” era consumada a abertura do Autódromo de Interlagos que havia permanecido fechado por um longo período para realização de reformas e; confirmada também a volta das 24 Horas de Interlagos, que iria acontecer no dia 15 de maio de 1970.
a corrida:
Chegada a data esperada, um sábado de sol quente, quatro horas da tarde, era dada a largada para um grid de 49 carros nacionais da categoria turismo anexo J, assistida por um público que lotou todas as arquibancadas ( coisa muito comum na época – bem diferente dos dias atuais ).
Ao melhor estilo “ Le Mans “ pilotos do lado de cá correndo paras as máquinas do lado de lá, que saiam em disparada num ensurdecedor mas maravilhoso rugido de motores ferozes e ávidos para engolir o asfalto. Apesar dos temores de alguns, foi uma largada limpa sem esbarrões, empurra empurra e outras coisas muito comuns que vez por outra se presencia nos tempos atuais.
Na ponta, pula um Opala quatro portas de número 80 pilotado pelo não menos famoso Bird Clemente em parceria com o seu mano (recém saído do kart) Nilson. E assim foi liderando a corrida até a bandeirada de chegada as quatro horas da tarde do dia seguinte.
Neste meio tempo muita coisa aconteceu, a começar pelo embate David contra Golias ou seja o Fusca 1600 da dupla Fredy Giorgi e Angi Munhoz fazendo sombra para o Opala dos irmãos Clemente por mais da metade da prova ou seja ocupando o segundo lugar e pronto para qualquer bobeada ou problema da dupla vencedora. Infelizmente o destino lhes traia e no meio da manhã de domingo o “porreta” do fusca quebra o eixo-comando de válvulas e sai do páreo. Alivio para os Clemente que baixam o ritmo da prova, pois os seus outros mais próximos perseguidores; um outro Volks 1600 ( Zé do Caixão ) de Emerson Maluf e Fausto Dabur e um FNM do Hugo Galina e Jaime Silva estavam com mais de oito voltas de atraso.
Jayme Silva e Hugo Galina, só perderam o segundo lugar em razão de ter levado mais tempo do que o necessário, numa das operações de reabastecimento.
O completo domínio do começo ao fim do Opala 80, não desmerece de forma alguma a vitória dos irmãos Clemente, pois os mesmos somente chegaram a ela graças a perícia da pilotagem do Bird e do Nilson e uma máquina muito bem preparada com três carburadores muito bem acertados e um veneno bem dosado para não matar o cliente antes da hora.

fatos e curiosidades:

A melhor volta da prova foi do Opala 80 com Bird Clemente, marcando 3m49s que manteve a média de 118,44 km/h durante a prova.
O piloto Luis Carlos Sansoni com um Dodge Dart de número 14 logo no inicio da prova, saiu da pista, subindo um barranco e ficando quase na vertical. O veiculo foi retirado com auxilio de cordas amarradas ao mesmo. Após substituir uma das rodas que havia quebrado no acidente, o mesmo retornou a pista, chegando a ser um dos poucos a ainda terminar a corrida ( 28. lugar )
Os Opalas que participaram da prova eram todos modelos sedan 4 portas, pois nesta época a GM não havia ainda lançado o Opala Cupê duas portas.
O Opala 4100 cc da dupla Bird e Nilson Clemente um mês e cinco dias depois (20/06/70) bateu o recorde de velocidade na Rodovia Castelo Branco, marcando 232,5100 km/h.
As 24 horas de Interlagos de 1970, teve exatamente a duração de 24 horas, um minuto e vinte oito segundos.
A Curva do Sol mais uma vez cobrou atenção dos pilotos, sendo a responsável pelo abandono do piloto Elvio Rangel que até o momento da capotagem vinha conduzindo seu Volks de forma eficiente. Outro piloto que também teve sua participação prematuramente encerrada nesta curva, foi Luis Landi ( filho de Chico Landi ) que também capotou no mesmo local.
Mal sabia o publico presente, que ao dar a bandeirada de chegada aos participantes, esta bandeirada estaria também encerrando a série de 24 Horas de Interlagos que nos anos 60 havia sido criada pelo CMC – Centauro Motor Club para correrem somente carros nacionais da categoria turismo. A primeira corrida longa após quase três anos de fechamento do Autódromo de Interlagos viria a ser ao mesmo tempo a ultima.
Estas 24 horas talvez tenha sido também uma das ultimas oportunidades que o publico teve de assistir o combate direto entre dois carros dignos representantes de gerações distintas, que marcaram época e foram ( se ainda não são !) objeto de desejo de uma legião de seguidores apaixonados pelos Alfas Romeo FNM – JK e GMs Opala.

classificação geral:

1. lugar - Bird Clemente e Nilson clemente com Opala 4100
2. lugar - Fausto Dabur e Emerson Maluf com Voks 1600 (Sedan 4P )
3. lugar - Jayme Silva e Hugo Galina com FNM JK
4. lugar - Pedro V. de Lamare e Cláudio Daniel Rodrigues com Ford Corcel
5. lugar - Emilio Zambello e Piero Gancia com FNM JK
6. lugar – Mauricio Chula e Jorge de Freitas com Volks (colaboração do amigo Fabiano70)
7. lugar – Ciro Caíres e Jan Balder com Opala 4100


fotos :

LARGADA AO ESTILO "Le Mans"

As feras saindo num belo espetáculo de rugir de motores.

OPALA n. 80 dos irmãos Clemente.


OPALA n. 76 de Bob Sharp já sem capô no começo da prova.

Volks 77 de Mauricio Chulan e Jorge de Freitas, Voks 1600 (Zé do Caixão) n.10 de Fausto Dabur e Emerson Maluf e, Ford Corcel 22 de Pedro Vitor de Lamare e Claudio Daniel Rodrigues e; Jk Alfa Romeo n.25 de Piero Gancia e Emilio Zambello.

Volks 1600 n. 48 de Angi Munhoz e Fred Girogi que no começo fez um pouco de sombra para o Opala dos irmãos Clemente, Ford Corcel 30 de Paulo Gomes e Sergio Louzada.

Opala 44 de Ciro Caires e Jan Balder, Volks n.85 de Chivas e Rene Lotfi e; Volks n.88 de Alex Ribeiro e José Fonseca.

15 comentários:

  1. Parabens meu amigo, simplesmente o mávximo!
    Claudio Daniel Rodrigues que correu com P.V chegando em 4º a bordo de um Corcel é o filho?

    Abs

    Rui

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  2. Fernando, o 6º colocado foi o fusca da dupla Maurício Chulam / Jorge Freitas, com 333 voltas.
    abraço,

    Fabiano.

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  3. Oi Fabiano, obrigado pela colaboração, já estou acertando na matéria.
    Abs,

    Fernando

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  4. Ótima matéria, texto cheio de detalhes importantes e fotos deliciosas de rever.
    Mas vou perguntar de novo, (sou teimoso pra cacete!).
    Por que as cabeças coroadas do nosso automobilismo mequetrefe, não pensam em organizar corridas com as mesmas características dessa categoria do passado.
    Carros de Turismo, divididos em cilindradas, e niveis de preparação (devidamente contidos) e separados entre nacionais e importados????
    Será que não traria o publico de volta para as arquibancadas?
    Será que isso não faria o "torcedor" de determinada marca comparecer aos autódromos, junto com "rivais" de outras marcas, para poderem ter assunto de sobra nas 2ªs feiras, após as corridas?
    Nos velhos tempos isso ocorria para quem era dono de Fuscas, DKWs, Simcas, JK, etc.
    Será que isso não iria despertar interesse de novos pilotos?
    Será que isso não traria de volta a categoria Estreantes e Novatos, na carona de uma categoria mais viavel e acessível a qualquer pretentente a piloto?
    Será que isso não "acordaria" as fabricas para divulgar um determinado modelo ou marca?
    Será que isso não tiraria das ruas os "rachadores" de Sexta e Sabado?
    Será...será...será...?
    Romeu.

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  5. Caro Romeu (F250GTO)

    Voce esta coberto de razão Não sei de qual das últimas décadas ( comcerteza não a minha que é a de 60 ) voce começou acompanhar o automobilismo brasileiro, mas a sua critica e observação tem muita propriedade. Infelizmente o atual automobilismo brasileiro em termos de espetáculo para o publico, agente formador de opinião e seguidores em torcidas desta ou daquela marca tal como as torcidas organizadas de outros esportes, ou ainda como esporte que criava espaço para o surgimento de idolos e heróis abnegados que acabavam sendo adotados pelos "fanautos e fãs clubes", não existe mais. Salvo poucas provas regionais, em que ainda existe uma pequena ponta do automobilismo romantico tal como nos Anos Dourados, o que normalmente vemos são corridas monomarcas onde muda somente a bolha e vence quem tem o maior "budget", eventos que ao meu ver, são promovidos unicamente para satisfazer os seus Promotores, a Midia quando for de seu interesse, ou um seleto grupo de consumidores. Particularmente o meu sentimento é que hoje existe um receio muito grande por parte das montadoras de expor os seus produtos em confronto com os demais, o que inevitavelmente acaba influindo no comportamento dos gestores do nosso automobilismo nacional.
    Muitos não consideram a Formula Truck como automobilismo (é uma questão de opinião particular de cada um, que deve ser respeitada), mas ..... a diversidade de marcas que correm, o espirito apaixonado dos seus pilotos que muitas vezes podemos ver na maneira simples e sicera de se expressarem, tem despertado junto ao público uma indentidade muito grande com estas pessôas que fazem o espetáculo e também com determinada marca ( eu sou Volvo, eu sou Volks etc e etc) que esta correndo, fazendo da Categoria atualmente, o maior sucesso em termos de evento de esporte a motor aqui no Brasil.
    Talves esta seja uma das saidas para o automobilismo puro (não aquele da venus paltinada) trazer de volta o publico que lotava as arquibancadas de uma 24 horas, 12 horas, Mil MIlhas e até mesmo provas regionais multimarcas com carros standart que o publico ve nas ruas e em suas garagens.

    Fernando

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  6. Aos "vendedores de carteirinhas"(com diz um amigo e eu concordo) não interessa nada disso, o que lhes interessa é na ordem; o clube ter uma data em um desses grandes eventos, a federação e CBA levar sua´parte. Se nosso automobilismo capenga é por culpa unica desses imcompetentes. Outro dia vendo umas fotos no Imagens da Luz vi estarrecido uma bela prova em Interlagos, muitos carros na pista e arquibancadas vazias. Só interessa a nossos dirigentes as taxas cobradas p/ os pilotos correrem.

    Abs

    Rui

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  7. Fernando, somos contemporâneos.
    O que você viu, eu tambem vi.
    O que você viveu, eu tambem vivi.
    Eu tive o privilégio de assistir a largada das I Mil Milhas em 56, no explendor dos meus 8 anos de idade.
    Porisso, sentimos as mesmas coisas quando voltamos ao Templo de Interlagos e vemos as arquibancadas vazias, lembrando que no nosso tempo, o que existia eram barrancos e não arquibancadas, portanto até o "conforto" era pior do que atualmente.
    Não morro de amores pela Truck, muito pelo contrario, destesto ver aquele brutamontes destruindo os autódromos, principalmente o nosso Interlagos.
    Mas concordo com você, pois existe mesmo uma simpatia e identificação do "torcedor" por essa ou aquela marca.
    Exatamente o que sentimos falta nas competições atuais monomarcas, bolhas e corridas incentivadas pelos incompetentes "vendedores de carteirinhas".
    Romeu

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  8. Fernando, seguem mais alguns carros identificados:

    JK nº 25 - Piero Gancia / Emílio Zambello
    Corcel n° 30 - Paulo Gomes / Sérgio Louzada
    Fusca nº 48 - Angi Munhoz / Fredy Giorgi
    Fusca nº 85 - "Chivas" / René Lotfi
    Fusca n° 88 - Alex Ribeiro / José Fonseca

    Abraço,

    Fabiano.

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  9. Obrigado meu amigo Fabiano.

    Já vou completar no blog.

    Abs,

    Fernando

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  10. Olá Fernando, tudo bom?
    Como vc lembrou de todos os detalhes dessa última 24 horas, gostaria de saber se vc se lembra de uma prova que reinaugurou o autódromo de Interlalagos.
    Eu estava lá assitindo, junto do Sid Mosca e Rubens Chiodi.
    O meu amigo Jozil José Garcia, correu com o Élvio Ringel, de VW 1.600, e chegou em 7º ou 8º.
    Me lembro que foi a estreia do Tite Catapani, também com um VW, só que quase um Div. 3.
    Dessas coisas eu me lembro, só não me lembro se foi no fim de 1969, ou começo de 1970.
    Não tenho mais certeza, mas acho que a prova era 1.600 quilometros de Interlagos.
    Só que procuro,procuro e não acho nada a respeito.
    Vc poderia me ajudar nessas informações?
    Agradeço e te deixo um abraço.
    Paulinho Valiengo.

    PS Ouvi hoje, 01/08/2011, que o Toninho de Souza vai realizar as 24 horas, para carros nacionais, de 1600 cc. Acho que vai dar certo e pretendo arrumar uns parceiros para participar.

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  11. Prezado Paulo,

    Hoje voce despertou me para lembranças de uma época final dos Anos Dourados, dos tempos dos anos de Chumbo e do incio da internacionalização do nosso automobilismo esportivo.
    Assim sendo em respeito e agradecimento ao seu comentário, estou colocando hoje (02/08/2011) um "post" que creio vá atender o seu pedido

    Um grande abraço,

    Hiperfanauto

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  12. Prezado Hiperfanauto,

    Sou um amante do automobilismo desde a tenra idade e olha que já estou chegando nos 50 (hheheheh) e tento mostrar atraves de artigos como o seu corridas e categorias que empolgavam o publico na minha época (decada de 70) e entre ela tenho a visão em minha mente da Can-Am e do Mundial de Marcas e creio que por isso eu prefiro muito mais esporte-prototipos, gts e turismo e em especial a Nascar que as corridas de monopostos. Ajudo uns amigos do blog/site ultrapassagem com informações sobre antigas (para eles) e extintas categorias e como era belo as corridas naquele tempo e achei o máximo esta reportagem de sua autoria sobre as 24 horas de INterlagos que como de resto tem-se poucos lugares para se pesquisar o assunto. Assim solicito seu "de acordo" em citar esta página sobre a edição de 1970 para a "cabeçinha" dos alienados que só sabem pensar em f-1 e deixam as boas corridas à mingua. (heheheh)..
    Eu estaria citando a possiblidade de haver uma edição da prova este ano (em agosto) e citaria esta pagina para que lessem e vissem as fotos dos competidores...
    Desde ja agradeço a atenção,

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    1. Caro Fernando,

      Em primeiro lugar os meus agradecimentos pela visita ao meu blog e pelas considerações, as quais fortalecem me cada vez mais para continuar escrevendo minhas memórias do bons Anos Dourados que vivi intensamente no automobilismo nacional.
      Lamentavelmente, o esporte a motor há muito vem deixando de ser o "entusiasmo" que levava um grande público aos autodromos (pelo menos aqui em Interlagos) para ser cada vez mais uma gincana de meninos endinheirados assessorados por marketistas de plantão que nem sequer sabem o que é um verdadeiro automobilismo esportivo.
      Com relação ao meu "de acordo" para citar a minha página, fique a vontade, pois na verdade eu é quem fico muito agradecido pela sua consideração e gentileza.
      Seja sempre bem vindo ao meu blog e um grande abraço.

      Hiperfanauto

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    2. Obrigado xará....a década de 70 foi cheia de belos mmomentos para o automobilismo brasileiro e é uma pena mesmo não ter aproveitado a época e plantado uma base jurídica, financeira e profissional para alçar categorias que revelassem verdadeiros amantes da pilotagem e nao garotinhos que querem fama e dinheiro (sei que todos querem e precisam dele para viverem, mas vc entende o que falo...).
      Tínha-se uma boa estrutura com boas categorias (divisão 3, divisão 4, f-vw1600 e 1300, f-ford,...) e deixaram tudo acabar em proveito de politica pessoal...é triste e mais triste ainda que os novos fãs nada tem de conhecimento disto e até preferem ignorar e ter olhos apenas para a Europa e f-1....
      Por essar e outras que o automobilismo norteamericano, australiano e argentino tem que ser realçado e apontado...

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    3. Bacana ver os Ford Corcel Bino correndo.

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Muito obrigado por prestigiar o meu blog.
Seu comentário é de grande valor para mim.
Após comentário, não esqueça de se identificar.
Infelizmente correspondências anonimas não poderão ser mais consideradas.