terça-feira, 2 de março de 2010

UM ESTRANHO NO NINHO VENCE COM MOTOR EMPRESTADO
          (aconteceu na 21a Mil Milhas Brasileiras a 26/01/1992)


Esta Mil Milhas, foi realmente uma Mil Milhas muito diferente das outras que até então estávamos acostumados a acompanhar. A começar pela novidade da hora de largada, que em vez da tradicional largada noturna com arquibancadas completamente tomadas pelo público eufórico esta,  teve a sua largada ao meio dia de um sábado, com as arquibancadas mostrando grandes manchas da cor de cimento, porém por alguns segundos focada pelas grandes emissoras de televisão, "que sempre estiveram presente apóiando incondicionalmente o nosso tupiniquim esporte a motor".
Como toda Mil Milhas, o resultado surpreendente também faz parte da tradição, e logicamente nesta 21ª Mil Milhas Brasileiras, não poderia deixar de ser diferente das outras conforme veremos a seguir.
Os Opalas da categoria stock car mais os Mustang da dupla Denísio Casarini – Fábio Greco, e dos cariocas Paulo Lomba, Roberto Aranha e J. Botelho, desde os treinos vinham impondo um humilhante ritmo aos demais carros de menos potência, inclusive às duas BMW M3 originais de rua (Grupo N) da equipe alemã, que aqui aportara a convite da Regino (um dos patrocinadores). Esta "supremacia" para espanto da torcida se apresentou de tal forma, que estes Opalas e Mustangs acabaram dividindo entre si, as primeiras posições do grid de largada.
Ainda para infortunio da equipe alemã visitante, uma das BMW M3 durante a etapa dos treinos, teve o seu motor estourado, pois a nossa gasolina batisada com alcool havia digerido totalmente um dos seus pistões. Para completar, os alemães senhores absolutos de sua auto suficiência desmedida, não trouxeram sequer peças de reposição para os motores.
Ai entra o jeitinho brasileiro, quando um dos técnicos da Regino descobre que em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, andava  pelas ruas uma BMW M3 identica a dos alemães. Com um pouco de conversa, o tal proprietário do interior cede emprestado o motor da sua BMW M3, e fica então resgatada a moral do time germânico.
Iniciada a corrida, o stock de Adalberto Jardim e Paulo Marino toma a dianteira e já na terceira volta punha uma volta de vantagem sobre um retardatário. Tamanha disposição leva o stock a abrir logo o bico, passando a dianteira então para o Mustang da dupla Casarini – Greco.  Dava gosto de ver a corrida pelo ritmo alucinante dos primeiros colocados, até que pouco a pouco foram cedendo os seus lugares para as BMW M3 não tão rápidas, mas constantes e resistentes. Quando tudo parecia que ia dar a dobradinha da equipe germânica, após oito horas de corrida BMW que era pilotada por Ingo Hoffmam e os alemães B. Effinger e Franz J. Prangemeir, estoura o motor, porem desta vez,  por  culpa do gringo Effinger que empolgado não se da conta da luz espia acesa indicando quebra da correia da bomba d’água.
Após 13 horas de disputa, exatamente à 01:00 da manhã de domingo, cruza a linha de chegada em primeiro lugar a BMW M3 com motor emprestado, pilotada pelo brasileiro Claus Heitkotter e pelos alemães M. Gindorf e J. Weiss, seguido pelo sensacional Voyage 1800 da dupla Boer e Lykouropoulos ( mostrando aos grandalhões da stock, que tamanho não é documento) e em terceiro o combativo Mustang dos cariocas Paulo Lomba, R. Aranha e J.Botelho.

fatos interessantes:

- a esquadra alemã de nome Nimex, volta vencedora graças a um motor emprestado e que já estava acostumado andar em primeira, segunda e terceira nas ruas de paralelepípedo da nossa querida Ribeirão Preto.

- mais uma vez eu tive a grande oportunidade de seguir esta corrida  do lado de dentro do palco ou seja; nos bastidores e camarins,  e mais uma vez presenciei e senti na própria pele que nem sempre a credencial que você tem e que foi obtida junto a direção da prova não é a que vale para  os "intransigentes e despreparados  seguranças”. Hoje, graças a tecnologia com seus cartões magnéticos e lógico um melhor preparo do pessoal de segurança e suporte, estes fatos “não ocorrem mais”.

- dos três Aldees que largaram e que vinham de um ótimo retrospecto da ultima Mil Milhas ( 19ª MM de 1990 ) o pilotado pelos Jimenes ( pai e filho) e pelo César Garcia Samos foi o melhor colocado, chegando em sexto lugar na geral , apesar de ter largado na 31ª posição.

- uma das atrações da prova, foi o Chevete ( hibrido) com motor 2.0 turbinado . Pilotado pro Silvio Zambelo, Fernando Rebellato e Jose R. Fiamingh, este carro chegou a brigar no primeiro pelotão, pois seu motor nada devia ao dos Opalões da stock.

- o fraquíssimo desempenho e depois abandono do protótipo Aurora foi uma das decepções da corrida. Pilotado por Atilla Sipos e Lineu Linardi com um motor turbo de 2000 cilindradas, mesmo largando na 9ª posição, já na 20ª volta parava seguidamente para reparos.

- outra decepção, foi o protótipo Lola T163 Avallone Crysler pilotado por Antonio carlos Avallone, que acabou nem chegando a formar no grid.

MUSTANG DE CASARINI E GRECO

                              VOYAGE 1.8 DE LYKOUROPOULUS E BOER                         

VENCEDOR NA CATEGORIA "A"  DA  MIL MILHAS ANTERIOR,  ERA FAVORITO, MAS PAROU POR PROBLEMAS MECANICOS.

OPALA DE CAMILO CRISTOFARO UM DOS FAVORITOS QUE TAMBÉM NÃO TERMINOU POR QUEBRA.

PROTOTIPO ALDEE  DA FAMILIA JIMENES ( PAI E FILHO ) E SAMOS, MELHOR COLOCADO ENTRE OS PROTÓTIPOS ALDEES E SEXTO NA GERAL .

MUSTANG DO PAULO LOMBA, J.BOTELHO E ARANHA, TERCEIRO COLOCADO, TERMINOU BRAVAMENTE A CORRIDA COM O MOTOR RAJANDO OS CINCO CILINDROS RESTANTES.

PROTOTIPO AURORA 2000 ESTREOU COM ATILA SIPOS E L.LINARDI, TAMBÉM NÃO TERMINOU A CORRIDA.


CLASSIFICAÇÃO FINAL

1.    Heitkotter/Gindorf/Weiss  -  BMW M3  -  372 voltas
2.    Lykouropoulus/Boer  -  VOYAGE 1.8  -  366 voltas
3.    Lomba/Botelho/Aranha  -  MUSTANG  -  363 voltas 
4.    Alves/Tarso  -  OPALA   -  361 voltas
5.    Bonini/Alves/Pimenta  -  OPALA  -  350 voltas
6.    Jimenes/Samos  -  ALDEE  -  346 voltas
7.    Mita/Astolfo/Campos  - VOYAGE  -  345 voltas
8.    Jacobi/Caruso   -  VOYAGE  -   345 voltas
9.    Carta/Kowalczuko  -  GOL  -   341 voltas
10.  Santos/Souza/Helou  -   PASSAT  -   337 voltas 

A minha opinião sobre o que esta Mil MIlhas representou, levando em consideração o momento socio ecônomico do Brasil naquele inicio da decada de 90.

A 21a Mil MIlhas de 1992, veio simplesmente confirmar um discurso de 1990 do então Presidente do Brasil  ( pouco tempo depois deposto ), que os carros do Brasil eram verdadeiras carroças. A vitória de um carro BMW M3 normal sem preparo nenhum para competição esportiva, frente  as nossas máquinas tupiniquins com mais do dobro de potência,  passou o atestado definitivo da nossa falência  tecnologica ( bem entendido considerando o ano de 1992 ).  O positivo foi o inicio do processo de abertura que dai para frente ocorreu, derrubando as barreiras do protecionismo e imobilismo, elevando a nossa industria automobilistica  ao mesmo patamar tecnológico das demais e consequentemente com lucro para o automobilismo esportivo.

3 comentários:

  1. BElo post hipper.
    Se eu nao estiver louco essa mil milhas o FErraz correu com um Speed 1600 (fuca)!!!
    Concordo com dua opiniao sobre a prova mas acho que a graça das mil milhas estava na epoca que os carros que corriam eram só os carros nacionais sem essa coisa de colocar uma bmw, um corvette, uma merça dtm etc.
    O grande barato era fazer tudo artesanalmente e poupar o torpedo pra durar a prova toda.
    Alguem ai lembra quando o passat hotcar ganhou a mil milhas desbancando todos aqueles stock ou o Toninho da Matta de oggi hotcar dando buxa num monte de stock durante os treinos?

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  2. Salve Popi,

    As Mil Milhas que o PASSAT Hot Car ganhou, foi a 13a Mil Milhas Brasileiras em 30/01/1983.
    O PASSAT era pilotado pelo trio de paulistas: Vicente Correa, Fausto Wajschenberg e Valdir Silva.
    Concordo com voce sobre as Mil Milhas serem exclusivas para carros nacionais de preparação livre, onde o que vale é a técnica e o jeitinho brasileiro de fazer uma máquina veloz mas ao mesmo tempo durável, como eram as máquinas dos Giaffones, este PASSAT que ganhou a 13a MM, e as carreteras muito bem preparadas dos gauchos e etc.
    O que houve com aquela 21a Mil MIlhas foi um excesso de otimismo por parte de alguns pilotos que não souberam poupar as suas máquinas e de um certo desprezo pelos principios técnicos da mecanica e da importância da tecnologia.
    É da arte do artesanato e da experimentação que nasce a tecnologia.

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  3. Caro amigo Feranando, li seu belo texto ontem mas só hj pude colocar meu comentário. Parabens meu amigo.

    Abs

    Rui

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